ensaio sobre a troca de pele (ou ensaio sobre a mudança)
ela não cabia mais dentro de sí. era maiscorpomais pra viver sob a pele, pelo menos sob aquela pele que era claustrofóbicamente fechada, amarrada em hábitos, respostas prontas, rotina marcada. aqueles horários que não a deixavam olhar pros lados, aquele juiz que a julgava de dentro pra fora o tempo inteiro. insuportável sustentar.
As manchas já não se desprendiam dela, da pele, e busquei a saída talvez mais comum: escalpelar-me. Levar embora aquele velho manto que me cobrira desde o nascimento. E assim o fiz. Rasguei-me primeiro o rosto por deveras acostumado ao sorriso e faria dele meu troféu. Estenderia-o ao alto, gritando, enquanto o resto de casca velha abriria-se ao chão como um tapete -mano-
O arco em que as costas da velha me mostram o estigamento da paisagem parece-me apreciar a visão geral em fragmentos de rebocos desgastados com a umidade aonde a fumaça dos blocos de madeira cortados vãos e figurativos de sua fronte suada e enurragada tensionam o local tal uma maçã idosa e pútrida.
Vejo um véu vívido e vacilante servindo vis desejos no passado impensados.
Vísceras vazam como cheiros e voam entre aqueles que têm olfato atento.
A mulher é a metáfora da revelação. Troca de pele como o poeta escreve um poema para a lua;
mas precisa de um carinho nu cheio de dedos calados e calejados para recordar que na mais aparente grosseria das couraças descartadas esconde-se a profundidade mais íntima.
Quando tudo parece pouco curva-se o mundo a um olhar que nos faz parecer caber dentro de nosso corpo.
7 comentários:
sem palavras!incrível!
tu sabe que esse texto junto do trabalho faz toda a diferença, né?
achei legal pra caramba essa troca de pele...
bjo grande.
Exorciza-me
As manchas já não se desprendiam dela, da pele, e busquei a saída talvez mais comum: escalpelar-me. Levar embora aquele velho manto que me cobrira desde o nascimento. E assim o fiz. Rasguei-me primeiro o rosto por deveras acostumado ao sorriso e faria dele meu troféu. Estenderia-o ao alto, gritando, enquanto o resto de casca velha abriria-se ao chão como um tapete
-mano-
O arco em que as costas da velha me mostram o estigamento da paisagem parece-me apreciar a visão geral em fragmentos de rebocos desgastados com a umidade aonde a fumaça dos blocos de madeira cortados vãos e figurativos de sua fronte suada e enurragada tensionam o local tal uma maçã idosa e pútrida.
Rsss, alguém anda me despenando aqui. hum.
é tipo a brincadeira de tirar "pelinha" de cola branca da mao...só que levada ao extremo e bem mais bonita! ;)
A serpente é a metáfora da revelação.
Vejo um véu vívido e vacilante
servindo vis desejos
no passado impensados.
Vísceras vazam como cheiros
e voam entre aqueles
que têm olfato atento.
A mulher é a metáfora da revelação.
Troca de pele
como o poeta escreve
um poema para a lua;
mas precisa de um carinho nu
cheio de dedos
calados e calejados
para recordar
que na mais aparente grosseria das couraças descartadas
esconde-se a profundidade mais íntima.
Quando tudo parece pouco
curva-se o mundo a um olhar
que nos faz parecer caber
dentro de nosso corpo.
Postar um comentário