eu acho que uma vez eu fui minha. minha voz saiu como tinha de ser, meu peito não estava nem pra tras, nem pra frente, estava onde ele gostaria de estar, a vergonha estava alí, como sempre fazendo parte do auto-julgamento-constante. eu estava sem roupa, sem maquiagem, sem nada no cabelo, sem depilar, suada. meus olhos olhavam tão descaradamente pra tudo o que lhes desejava que nem meu bom-senso, que nesse momento estava quase nulo, conseguia domá-los.
o cheiro era o do meu travesseiro, com suor, com sabonete, com shampoo, com baba. eu me sentia no meu útero. não ventava lá. a luz era meia. os meus músculos estavam derretidos e confortáveis. estando assim eu finalmente consegui dizer que eu não fazia aniversário, não era normal, chorava constantemente e em silêncio, beijava meu joelho, e respirava mais forte quando queria acordar de um sonho. me orgulhei de ser excentrica e de me ver especial por isso.
me assumindo pra vc, desabei do útero, fui me empurrando de mim e as contrações me cuspiram pra fora até eu deliberadamente nascer grávida de novo.
3 comentários:
belo texto, bela foto...tá bom paca tudo isso...
bjo.
muito lindo! tudo isso, dessa vontade fixa de querer estar nascendo, às vezes por outro alguém. e sempre a custo de sangue e veias cortadas. é mesmo como dar luz a elefante.
*Eu vi essa apresentação na FEIA! :,)
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