segunda-feira, 16 de novembro de 2009

mulher


eu acho que uma vez eu fui minha. minha voz saiu como tinha de ser, meu peito não estava nem pra tras, nem pra frente, estava onde ele gostaria de estar, a vergonha estava alí, como sempre fazendo parte do auto-julgamento-constante. eu estava sem roupa, sem maquiagem, sem nada no cabelo, sem depilar, suada. meus olhos olhavam tão descaradamente pra tudo o que lhes desejava que nem meu bom-senso, que nesse momento estava quase nulo, conseguia domá-los.
o cheiro era o do meu travesseiro, com suor, com sabonete, com shampoo, com baba. eu me sentia no meu útero. não ventava lá. a luz era meia. os meus músculos estavam derretidos e confortáveis. estando assim eu finalmente consegui dizer que eu não fazia aniversário, não era normal, chorava constantemente e em silêncio, beijava meu joelho, e respirava mais forte quando queria acordar de um sonho. me orgulhei de ser excentrica e de me ver especial por isso.
me assumindo pra vc, desabei do útero, fui me empurrando de mim e as contrações me cuspiram pra fora até eu deliberadamente nascer grávida de novo.

3 comentários:

jonas disse...

belo texto, bela foto...tá bom paca tudo isso...
bjo.

mano disse...

muito lindo! tudo isso, dessa vontade fixa de querer estar nascendo, às vezes por outro alguém. e sempre a custo de sangue e veias cortadas. é mesmo como dar luz a elefante.

mano disse...

*Eu vi essa apresentação na FEIA! :,)